Seu nome era Maria, Maria Luíza, mas para
mim simplesmente minha avó. Uma senhora gordinha simpática, de pele branca
rosada, ela era também a minha madrinha!
Sua vida foi como a de muitas pessoas que
viveram na sua época, filha de italianos legítimos, nasceu em Tietê em 25 de
agosto de 1920, teve oito irmãos, estudou até o segundo ano do curso primário,
o suficiente para aprender a ler, escrever e efetuar as quatro operações
básicas. Casou-se com o meu avô Ademar, um mestiço filho de alemão com afrodescendente.
Teve três filhas, minha mãe Terezinha, hoje com 68 anos, minha tia Guiomar que
cometeu suicídio com 21 anos de idade e minha tia Aide, hoje com 64 anos.
Segundo contam, meu avô Ademar, era um
boêmio, que vivia a vida de forma um tanto irresponsável, o que lhe causou muitos
aborrecimentos. Chegou a faltar até mesmo o que comer em sua casa, mas ela
enfrentou tudo calada e sobreviveu adotando estratégias de planejamento as
quais nenhum dos cursos de gestão que participei em toda a minha vida me
ensinou.
Recordo-me dos seus modos, da sua
organização e principalmente do planejamento que fazia com a alimentação para
nunca faltar, coisa que ela não precisava fazer mais quando convivi com ela, pois os tempos eram
outros. Quando chegava a compra do mês, entregue pela cooperativa da usina, ela
contava quantas canequinhas de arroz havia e as dividia pelo número de dias que
faltavam para chegar a próxima compra. O pacote de banha era dividido em trinta
partes, assim como todo restante da compra. Segundo ela nós deveríamos aprender
a viver com o que tínhamos e não nos endividar!
Com roupas de adultos que não servia mais,
ou que haviam desgastado em alguma parte, ela costurava roupinhas para seus
netos. Fazia vestidinhos lindos para mim e nunca deixava de fazer para minha
prima Denise.
Eu ficava o tempo todo com ela. Minha mãe
não tinha muito tempo para mim, porque meu irmão Ademar, três anos mais novo do
que eu era muito doente e merecia toda a sua atenção. Com ela aprendi a
importância da bondade, do caráter, de fazer as coisas certas. Com ela aprendi
a ser quem eu sou.
Nossa convivência foi curta, apenas onze
anos, mas nas minhas lembranças apenas três ou quatro anos. Ela foi para junto
de Deus muito cedo, trazendo a primeira grande dor da minha vida, mas o seu
legado deixou marcas profundas na minha personalidade. Dela eu herdei muita
coisa, meu jeito de ser, a forma de conduzir minhas atividades domésticas,
aprendi a tricotar, crochetar, organizar as coisas e principalmente planejar!
Num dia desses, percebi que até a
maquiagem que uso é a mesma que ela usava: pó de arroz, brush e batom e nada
mais! Sobrancelhas e olhos naturais, sem nenhuma maquiagem. O modo discreto de
se vestir, sem nunca chamar a atenção é outra coisa comum entre nós duas.
Faltavam três dias para ela completar
cinquenta e quatro anos quando sua vida se findou. Chorei e sofri demais, foi
muito difícil para mim aquele agosto de 1974, quando o sino da igreja matriz
tocou as duas da tarde e ela foi levada de volta para Tietê, para sempre!
Hoje, se ela estivesse viva estaríamos em
festa, pois dona Maria estaria completando noventa anos de idade! Gostaria de
poder conversar com ela, falar de mim, da vida, enfim, dizer, te amo e sempre
te amarei!
Fica uma lição: não importa que sua vida
seja simples, não importa o fato de você já ter partido há muitos anos, o que
importa é o legado que você deixa para aqueles que conviveram com você!!!!
Vó.... Te amo!!!!!