Seu nome era Maria Luíza, mas
para mim simplesmente minha avó. Uma senhora gordinha simpática, de pele branca
rosada. Ela era também a minha madrinha!
Sua vida foi
como a de muitas pessoas que viveram na sua época, filha de italianos
legítimos, nasceu em Tietê em 25 de agosto de 1920, teve oito irmãos, estudou
até o segundo ano do curso primário, o suficiente para aprender ler, escrever e
efetuar as quatro operações matemáticas. Casou-se com o meu avô Ademar, um mestiço
filho de alemão com afrodescendente. Teve três filhas, minha mãe Terezinha,
hoje com 72 anos, minha tia Guiomar que cometeu suicídio com 21 anos de idade e
minha tia Aide, hoje com 68 anos.
Segundo
contam, meu avô Ademar, era um boêmio, que vivia a vida de forma um tanto
irresponsável, o que lhe causou muitos aborrecimentos. Chegou a faltar até
mesmo o que comer na sua casa, mas ela enfrentou tudo calada e sobreviveu
adotando estratégias de planejamento as quais nenhum dos cursos de gestão que
participei em toda a minha vida me ensinou.
Recordo-me dos
seus modos, da sua organização e principalmente do planejamento que fazia com a
alimentação para nunca faltar. Estratégia adotada mesmo quando não precisava mais,
pois os tempos eram outros. Quando chegava a compra do mês, entregue pela
cooperativa da usina, ela contava quantas canequinhas de arroz havia e as
dividia pelo número de dias que faltavam para chegar a próxima compra. O pacote
de banha era dividido em trinta partes, assim como todo restante da compra.
Segundo ela nós deveríamos aprender a viver com o que tínhamos e não nos
endividar!
Com roupas de
adultos que não servia mais, ou que haviam desgastado em alguma parte, ela costurava
roupinhas para seus netos. Fazia vestidinhos lindos para mim e nunca deixava de
fazer para minha prima Denise.
Eu ficava o
tempo todo com ela. Minha mãe não tinha muito tempo para mim, porque meu irmão Ademar,
três anos mais novo do que eu era muito doente e merecia toda a sua atenção.
Com ela aprendi a importância da bondade, do caráter, de fazer as coisas
certas. Com ela aprendi a ser quem eu sou.
Nossa
convivência foi curta, apenas onze anos, mas nas minhas lembranças apenas três
ou quatro anos. Ela foi para junto de Deus muito cedo, trazendo a primeira
grande dor da minha vida, mas o seu legado deixou marcas profundas na minha
personalidade. Dela eu herdei muita coisa, meu jeito de ser, a forma de conduzir
minhas atividades, aprendi a tricotar, bordar, organizar as coisas e
principalmente planejar!
Num dia
desses, percebi que até a maquiagem que uso é a mesma que ela usava, o mais simples possível.
O modo discreto de se vestir, sem nunca chamar a atenção é outra coisa comum
entre nós duas.
Faltavam três
dias para ela completar cinquenta e quatro anos quando sua vida se findou.
Chorei e sofri demais, foi muito difícil para mim aquele agosto de 1974, quando
o sino da igreja matriz tocou as duas da tarde e ela foi levada de volta para Tietê,
para sempre!
Hoje, se ela
estivesse viva estaria prestes a completar noventa e quatro anos de idade!
Gostaria de poder conversar com ela, falar de mim, da vida, enfim, dizer, te
amo e sempre te amarei! Sempre que posso vou ao cemitério em Tietê e sinto
muita paz!
Fica uma
lição: não importa que sua vida seja simples, não importa o fato de você já ter
partido há muitos anos, o que importa é o legado que você deixa para aqueles
que conviveram com você!!!!
Vó.... Te
amo!!!!!