quinta-feira, 7 de abril de 2011

Tragédia no Rio - Educação ou Ensino?


Hoje de manhã ao voltar da escola, fui surpreendida com as notícias sobre a tragédia na Escola Municipal Tasso da Silveira no Rio de Janeiro. Como estou de férias da minha outra escola, acompanhei o dia todo, com uma imensa dor no coração, os noticiários sobre o desfecho da tragédia que vitimou muitas crianças, com idade média de treze anos. Coloquei-me no lugar do diretor daquela escola e desesperei só em pensar. Pior ainda foi pensar como a família de uma das vítimas.

Será que a tragédia poderia ter sido evitada? Sim, não...talvéz! No primeiro momento me perguntei: como deixaram um estranho entrar na escola? Vieram as justificativas, o assassino era ex-aluno, nunca deu problemas na escola. Em plena comemoração dos seus quarenta anos, motivo pelo qual a instituição estava promovendo palestras o assassino se apresentou como um palestrante. Portanto não existem outros culpados.

O noticiário da noite, já tentando desvendar os mistérios que motivou a tragédia investigou um pouco mais a história de vida do ex-aluno. Como já disse: na escola ele nunca dera problemas, um ex-companheiro de sala disse que ouviu sua voz apenas umas três vezes durante todo o tempo que haviam estudado juntos e que há alguns dias atrás tinha visto o ex-colega de sala sentado olhando fixamente para a escola. Sua vida era um tanto estranha, não tinha convivência social, segundo relatos ficava apenas na internet.

Com toda certeza premeditou o crime, deixou uma carta estranha e destruiu possíveis provas, inclusive seu computador estava todo queimado. Segundo informações ele era filho adotivo, perdera a mãe de criação há dois anos e sua mãe biológica tinha problemas psicológicos. Segundo um familiar ele dizia que gostaria de destruir prédios como ocorrera nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001.

Voltando a pergunta inicial: a tragédia poderia ter sido evitada? Após todas as informações, acho que sim, desde que as ações tivessem ocorrido há muitos anos atrás. Não é normal uma criança muito introvertida, algumas com o tempo se abrem, outras levam consigo o problema para o resto da vida.

Fui uma criança introvertida, muito tímida. Na minha infância o padrão de altura não era o de Gisele Büdchen, sendo assim, sofri bullying, por conta da minha altura. Alguns anos foi bom ir à escola, mas alguns anos, quando eu não encontrei uma amiga legal, ir à escola foi um tédio, uma tristeza inexplicável. Hoje eu entendo que eu sofria de complexo de inferioridade, que uma psicóloga que trabalhasse minha auto-estima resolveria o problema rapidinho. Mas graças a Deus, sozinha, venci a timidez e hoje me relaciono muito bem com as pessoas, mas nem todos reagem assim!

Trabalhar o bullying é algo imprescindível nos dias de hoje, mas acho que só isso não basta. Nós professores estamos o tempo todo empenhados em ensinar e não temos tempo para tratar de outros assuntos com nossos alunos. Damos graças a Deus quando aparece um aluno "quietinho", como o assassino e muitas vezes nem lembramos o nome desse aluno, por ele não nos dar trabalho.

Toda criança tem que ser alegre, feliz, ter sonhos. Se isso não acontecer algo está errado. A infância é o momento certo para entrar em cena os psicopedagogos, psicólogos, assistentes sociais a fim de realizar um trabalho com a criança que apresenta muita tristeza, vive melancólica e não têm amigos. Trabalhando a criança, futuramente não teremos um adulto desequilibrado.

Se eu não conhecesse como funciona o financiamento da educação, talvés estivesse culpando os secretários de educação por não colocar nas escolas uma equipe de apoio composta com tais profissionais, inclusive por profissionais da área de segurança. Hoje, na rede municipal, temos psicólogos, na minha escola tem uma excelente psicóloga, porém vai apenas uma vez por semana, quando precisaríamos dela todos os dias. Mas ela tem que atender outras escolas, pois são apenas três ou quatro psicólogos para toda a rede de ensino.

Há alguns anos atrás, quando eu dirigia a educação municipal, fui surpreendida com um parecer do tribunal de contas, dando o pagamento das psicólogas como investimento não permitido na educação.

Quem escreve as leis, se preocupa bastante com fórmulas para evitar desvio de verbas da educação, proíbe uma série de investimentos, tanto que os tribunais não usam termos como investimentos em educação, usam gastos com o ensino, mostrando um excesso de pragmatismo no processo educacional. Proibem todos os tipos de investimentos sociais e em segurança, sem terem a experiência de quem está dentro da escola, achando que educação é só ensinar conteúdo, mais nada!

Que o ocorrido, sirva para uma ampla reflexão com todos os envolvidos no processo educacional e quem sabe ocorram algumas mudanças significativas. Que os legisladores legislem ouvindo aqueles que estão no dia-a-dia das escolas e que prefeitos e governadores saibam investir os recursos de forma adequada e responsável para que não sejam necessárias tantas proibições, como a contratação de uma equipe de apoio, pois só assim formaremos crianças plenamente felizes, que jamais cometerão massacres como o de hoje!

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